Diabetes e risco cardiovascular: por que cuidar vai além da glicemia

A glicemia está sob controle. Mas o coração está seguro?

O controle glicêmico virou sinônimo de “bom tratamento”. Mas aqui vai uma provocação que incomoda: manter a glicemia estável não garante proteção cardiovascular.
Na prática clínica, isso significa que um paciente com hemoglobina glicada <7% pode estar em alto risco de infarto, insuficiência cardíaca ou AVC — e nem saber.

Essa desconexão entre controle glicêmico e proteção real ajuda a explicar um dado alarmante: o risco cardiovascular no diabetes começa cedo, muitas vezes ainda sem sintomas — e segue crescendo mesmo quando os números parecem “bons”.

A principal causa de morte em diabéticos tipo 2 são as doenças cardiovasculares.

É por isso que diabetes e doenças cardíacas devem ser sempre pensadas como uma mesma entidade — a síndrome cardiometabólica do século.

Como se manifesta a doença cardiovascular em diabéticos

O diabetes atua como um acelerador silencioso de lesões cardiovasculares. Mesmo quando assintomático, ele já está promovendo inflamação vascular, disfunção endotelial e remodelação miocárdica.

1. Aterosclerose: a semente invisível do infarto

A doença aterosclerótica coronariana (DAC) é mais precoce, mais difusa e mais instável em pessoas com diabetes.

Estudos mostram que o risco de eventos coronarianos pode ser equivalente ao de pacientes que já infartaram, mesmo sem história prévia de DAC.

Mesmo com LDL (o “colesterol ruim”) controlado, o risco cardiovascular no diabetes permanece alto por causa de fatores como inflamação crônica, hipertrigliceridemia e resistência insulínica.

2. Insuficiência cardíaca: a complicação cardíaca mais comum (e mais negligenciada) no diabetes

Pouco discutida, a insuficiência cardíaca é uma das principais complicações cardíacas do diabetes — e pode surgir mesmo sem obstrução coronariana (entupimento das artérias do coração).

É a chamada miocardiopatia diabética, caracterizada por fibrose, hipertrofia e disfunção diastólica — muitas vezes silenciosa até a descompensação.

Nos grandes estudos cardiovasculares, como o DECLARE-TIMI 58, esse foi o desfecho mais prevalente — à frente de infarto ou AVC.

3. Fibrilação atrial: o marcador de instabilidade atrial

A fibrilação atrial, que é a arritmia cardíaca mais prevalente, é até 40% mais comum em pessoas com diabetes — e esse risco aumenta com o tempo de doença e a presença de doença renal crônica.

Essa arritmia não é apenas um evento isolado: ela faz parte do espectro de doença cardiovascular em diabéticos, multiplica o risco de AVC cardioembólico e está fortemente associada à progressão para insuficiência cardíaca.

A tríade do risco: diabetes, coração e rim

Poucos profissionais avaliam de forma integrada a doença cardiovascular em diabéticos e o impacto da doença renal crônica (DRC).

  • A DRC ativa o sistema renina-angiotensina-aldosterona, agrava a hipertensão e aumenta a rigidez vascular.

  • A albuminúria, mesmo discreta, é marcador precoce de risco cardiovascular.

  • Pacientes com diabetes e DRC têm risco dobrado de eventos cardíacos fatais.

É por isso que a abordagem tradicional — baseada apenas em controle glicêmico — é insuficiente.

O novo paradigma: proteger, não apenas controlar

Hoje, contamos com medicamentos que vão além do controle do açúcar no sangue — eles realmente reduzem o risco de infarto, insuficiência cardíaca e morte.
E o mais importante: não são os hipoglicemiantes convencionais. São medicamentos modernos, com benefícios comprovados para proteger o coração e os rins.

 Agonistas do GLP-1 e inibidores de SGLT2 demonstraram redução de mortalidade cardiovascular, hospitalizações por insuficiência cardíaca e progressão da DRC.

A importância do acompanhamento multidisciplinar

Não há mais espaço para condutas isoladas.
A medicina moderna exige uma atuação multidisciplinar, integrada e estratégica.

🔎Endocrinologistas focam na progressão da doença;
🫀 Cardiologistas atuam na prevenção de eventos fatais;
🩺 Nefrologistas identificam sinais precoces de lesão renal;
🥗 Nutricionistas ajudam a controlar a inflamação metabólica.

E o paciente precisa de todos eles!

Na próxima consulta, pergunte: estou cuidando do coração e dos rins — ou só do açúcar

Seu remédio só controla glicemia ou também protege seu coração?

Tem alguém com diabetes na família? Essa leitura pode mudar o rumo do cuidado.

Nem todo paciente com diabetes sente algo no coração. Mas todo paciente com diabetes merece ser avaliado por um cardiologista.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sobre o Autora

Dra. Mônica Figueredo - cardiologia em Natal - RN

Dra. Mônica Figueredo

No blog da Dra. Mônica Figueredo, descubra como prevenir e tratar doenças cardíacas com dicas e orientações especializadas.

 

Junte-se à família!

Inscreva-se para receber uma Newsletter.

Abrir bate-papo
Precisa de Ajuda?
Olá, posso te ajudar!