Por que o cardiologista está falando cada vez mais sobre peso?
Durante muito tempo, falar em obesidade na consulta cardiológica soava como um lembrete genérico: “precisa perder peso”. Mas isso está mudando — e rápido. A nova diretriz publicada em 2025 pelo American College of Cardiology (ACC) deixa claro: controlar o peso é uma intervenção direta para reduzir o risco cardiovascular.
Não se trata apenas de estética ou estilo de vida. Hoje sabemos que a obesidade está profundamente ligada a inflamação crônica, disfunção endotelial, hipertrofia cardíaca, hipertensão arterial e dislipidemias — ou seja, é um dos motores silenciosos do infarto e do AVC.
Obesidade como doença cardiovascular em si
A nova diretriz reconhece a obesidade como uma doença progressiva, multifatorial e crônica, e não apenas um fator de risco ou um problema de comportamento. Isso muda a forma como médicos devem abordar o tema.
Um paciente com IMC elevado e histórico de pressão alta, diabetes ou colesterol alto não pode mais esperar “perder peso naturalmente” antes de receber tratamento eficaz. Cada ano de obesidade ativa significa progressão do risco aterosclerótico e remodelamento negativo do coração.
O papel dos medicamentos modernos: mais do que emagrecer
Medicamentos como semaglutida e tirzepatida, que atuam nos receptores GLP-1 (e GIP, no caso da tirzepatida), mostraram em estudos clínicos não só perda de peso importante, mas também redução de eventos cardiovasculares maiores (MACE).
Isso inclui:
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Menor incidência de infarto do miocárdio
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Redução de hospitalizações por insuficiência cardíaca
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Redução da pressão arterial sistêmica
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Melhora do perfil lipídico, com queda de triglicerídeos e LDL
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Redução da gordura visceral e hepática
A obesidade e a disfunção cardíaca oculta
Um dos aspectos mais silenciosos, mas perigosos, da obesidade é sua relação com a insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP). Essa forma de insuficiência cardíaca afeta principalmente mulheres, pessoas idosas e pacientes com obesidade central. Nesse cenário, a perda de peso com medicamentos melhora a função diastólica e reduz sintomas como cansaço e falta de ar, mesmo quando não há obstruções nas artérias.
Controle de peso e prevenção primária: quem se beneficia?
Mesmo antes de um infarto acontecer, controlar o peso de forma proativa pode reverter a hipertrofia ventricular esquerda, melhorar a variabilidade da frequência cardíaca e diminuir a rigidez arterial — todos marcadores precoces de risco.
Pacientes com pré-hipertensão, resistência insulínica, dislipidemia leve ou histórico familiar de doença coronariana são candidatos claros para uma abordagem preventiva mais ativa, inclusive com suporte medicamentoso.
A medicina do futuro começa com menos julgamento
Estamos diante da necessidade de eliminar o viés de peso nas consultas. Isso significa parar de tratar o excesso de peso como falha pessoal e passar a enxergá-lo como um fator de risco a ser combatido com empatia, ciência e estratégia — como fazemos com pressão alta ou diabetes.
A conclusão de toda essa discussão…
A obesidade, especialmente em seus fenótipos metabólicos de alto risco, deve ser abordada como um componente tratável da carga aterosclerótica e da disfunção cardiovascular subclínica. Ignorar sua progressão é adiar intervenções que já demonstraram impacto direto na redução de eventos como infarto, AVC e insuficiência cardíaca.
Converse com um cardiologista que esteja alinhado com as novas diretrizes e tecnologias terapêuticas. A prevenção cardiovascular hoje inclui, de forma inequívoca, o tratamento direcionado da obesidade.